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29.5.07

Comissão de honra de Costa - concurso para assessores 

A comissão de honra do Costa que concorre a presidente da câmara de Lisboa tem mais de quinhentos nomes! É obra, finalmente obra que se vê! Ninguém quis ficar de fora... Parece um concurso para assessor.
Parece que o periquito de Costa foi convidado mas não aceitou, afirmou mesmo que não alinhava se não lhe dessem um lugar de assessor e que a companhia não era assim muito ilustre.

Entretanto Sá Fernandes, o tal Zé de que a malta precisa, um vereador sem pelouro, tinha apenas nove assessores! Apenas nove, que miséria, não posso votar num gajo que tem apenas nove assessores, é pouco importante um gajo assim...

Ruben (levará acento ou assento?) de Carvalho e o outro comunista da câmara de Lisboa, dois vereadores, tinham apenas 5 assessores. Ele há cada coisa, apenas cinco para dois vereadores, 2.5 assessores por vereador. A comissão de honra não deve ter muita gente por este andar... é o comunismo.
É verdade: desgraçado do meio assessor partilhado.


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25.5.07

Com atraso mas boa vontade - Salzburg na Páscoa e Lang Lang em Lisboa 

Crónicas atrasadas do Festival de Salzburg

Bronfmam perfeito

Dia 1 de Abril. Salzburg, Rattle dirigiu a Filarmónica de Berlim. Tivemos o privilégio de escutar Efim Bronfmam no terceiro concerto de Rachmaninoff.
Espantou o diálogo ímpar entre a orquestra de Berlim e o pianista. Este exibiu um toucher delicadíssimo, de uma suavidade imperceptível no ataque, que mantém, quer nos pianíssimos, quer nos fortíssimos, em que ombreia com a orquestra em termos de pura potência sonora. Belíssimo andamento lento, cheio de poesia com sopros em plano elevadíssimo. Nos andamentos rápidos espantou a coordenação entre o fraseado do pianista e da orquestra, num diálogo igual e excelente.
Bronfmam é um pianista pouco conhecido em Portugal, mais dado aos Pollini, Kissin ou Sokolov que nos visitam regularmente. Tem havido uma tremenda lacuna dos nossos programadores ao esquecerem-se do pianista israelita de origem russa. Ao cuidado da Fundação Gulbenkian, da Casa da Música e do CCB.

Lang Lang: e lá matou o Prokofiev mais uma vez

A 2 de Abril foi a vez de Lang Lang, se apresentar com o terceiro concerto de Prokofiev. Foi dito, pela crítica internacional, que Lang Lang é um pianista virtuoso mas maquinal, a nossa impressão é ainda pior, Lang Lang é uma espécie de boneco articulado que dá pulinhos ao piano e abana a cabeça mantendo sempre um sorriso irritante, olhando para o público de vez em quando sempre com ar de que aquilo é tudo muito trivial e que ele domina a coisa sem necessidade sequer de estar atento ao que toca. Tudo isso seria dispiciendo se o resultado não fosse confrangedor, Lang Lang não tem envergadura física para o volume sonoro necessário a ombrear com uma orquestra de plena formação sinfónica, toca... toca, mas não se ouve. No andamento mais poético, o segundo Andantino, Lang Lang foi frio e não teve capacidade para transmitir a tortuosa linha de Prokofiev. No último andamento aconteceu o pior, Lang Lang chegou mesmo a andar desfasado da orquestra, correndo a um ritmo estranho e despropositado nas partes mais expostas o que a um nível destes é surpreendente. O público foi muito menos caloroso do que com Bronfmam, mas acabou por ser entusiasta, não é só em Portugal que o público é demasiado generoso...

Um concerto que acabou em beleza com a sinfonieta de Janacek, com um impressinante banda suplementar de metais que enriqueceu o som da Filarmónica de Berlim e contribuiu para um final verdadeiramente empolgante.
Os concertos de câmara, aos preços muito mais módicos de vinte euros, no Mozarteum, foram um complemento excelente de um Festival de altíssimo nível.
Para o ano que vem há mais, com a Valquíria como cabeça de cartaz.

P.S.: Vem este texto que reciclei do meu diário a propósito de Lang Lang ontem na Gulbenkian, se Lang Lang assassinou denodadamente o pobre do Prokofiev em Salzburg, ontem o desgraçado do Beethoven foi massacrado, estralhaçado, cortado em postas e espalhado aos quatro ventos. Uma técnica de dedilhação invejável, um sentido rítmico inacreditável (soluçante e sem fluxo discursivo), falta de domínio do pedal (serve mais para bater o compasso), retórica desconexa, soluções extemporâneas apenas pelo efeito fácil e a surpresa de circo, esforçandos apalermados e a despropósito, escalas sem uniformidade feitas a acelerar sem nexo, falta de cultura musical e de sentido estilístico, habilidades de macaco amestrado e gestos inúteis. Depois seguem-se Rubatos imbecis e tempos errados nos solos, cadências foleiras. Falta de som, agressividade nas pancadas dadas no teclado que soam agrestes, trilos que soam a lata a chocalhar. Falta de presença dos dedos no teclados com ataques francamente maus. Pianíssimos que às vezes pareciam dizer coisas bonitas rapidamente assassinados por uma manobra kitsch ou um sforzano caído do céu aos trambolhões.
Simplesmente horrível, um dos piores concertos a que assisti nos últimos anos. Lang Lang bola preta, muito pior do que em Salzburg, Foster colaborou na palhaçada e a orquestra Gulbenkian lá foi andando aos soluços à frente e atrás das excentricidades rítmicas do rapaz, inacreditável a barulheira das trompas no concerto nº 5 de Beethoven, terceiro andamento, autêntica feira popular.
Valeu o facto de tudo ter sido extremamente divertido o que nos fez sair do concerto bem dispostos. Lang Lang pode tocar muito mal, e falo sempre do lado estilístico, mas tem um lado simpático e comunicativo que até depois das maiores asneiras nos deixa felizes. Virá daí a sua popularidade? Isto apesar de ser habitualmente arrasado pela crítica.

Na sinfonia clássica de Prokofiev a coisa correu razoável mas sem fluidez, mostrando a orquestra os seus limites: interpretação pesada, mastigada ritmicamente e com falhas de afinação nas cordas.

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17.5.07

OPART o benefício da dúvida 

Nasce torta e tarde e depois de muitas tergiversões do secretário hermenêutico e da ministra que parece andar a leste, ou na Arábia. A direcção parece ser técnica e competente na sua área, para já o benefício da dúvida. Esperam-se os directores artísticos e que a hermenêutica não espete a faca nas costas, pelo menos demasiado depressa, dos nomeados. Sem levantarem ondas, continuando a zelar por uma hermenêutica bem polida, Fragateiro e Pais permanecem colados às cadeiras. Segue notícia da LUSA:


17-05-2007 14:30:00. Fonte LUSA.
Temas: cultura governo teatro música portugal

Cultura: Pedro Santos Moreira nomeado presidente do OPART

Lisboa, 17 Mai (Lusa) - Pedro dos Santos Moreira será o presidente do OPART, Organismo de Produção Artística que tutelará a Companhia Nacional de Bailado e o Teatro de São Carlos, informou hoje o Ministério da Cultura.

A direcção do OPART será também integrada por Carlos Santos Vargas e Henrique Pinto Ferreira.

A mesma nota ministerial anuncia a recondução de Carlos Fragateiro e Ricardo Pais à frente, respectivamente, dos teatros nacionais D. Maria II e São João.

Carlos Fragateiro e Ricardo Pais, que desempenhavam funções de directores, serão a partir de agora presidentes, na medida em que estes dois teatros passam à categoria de entidades públicas empresariais.

Como vogais do Teatro D. Maria II de Lisboa foram nomeados José Manuel Castanheira e Amadeu Basto de Lima.

No Nacional S. João do Porto, os vogais são Francisca Carneiro Fernandes e Salvador Santos.

Santos Moreira, 36 anos, desempenha actualmente as funções de director da Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos do Instituto Superior de Ciências Sociais e do Trabalho (ISCTE).

O presidente da OPART é doutorado em Gestão e tem desenvolvido a sua carreira dentro da estrutura do ISCTE.

Quando aos vogais, Carlos Santos Vargas, 40 anos, desempenha desde 2004 as funções vogal do Conselho Directivo do Teatro de São Carlos, e Henrique Pinto Ferreira, 37 anos, era desde Novembro de 2004 director financeiro do Instituto Nacional de Habitação.

NL.

Lusa/Fim NL.

Lusa/Fim

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11.5.07

Ruído infame 

Ontem a maestrina Young e o Coro Gulbenkian, mais a orquestra Gulbenkian, no Te Deum de Verdi, deram-nos uma lição de descontrolo dinâmico, más entradas, ruído doloroso, desequilíbrio sonoro, desconexão entre orquestra e coro verdadeiramente alucinantes. No coro escutámos com supresa (ou talvez sem tanta): desafinação horrível nos sopranos, vozes masculinas desacertadas, entradas a medo. Berraria constante. Estive para sair a meio, o quarto de hora da obra pareceu-me uma eternidade. Uma primeira parte infecta, uma maestrina contorcionista em cima do pódio que gesticulava, gesticulava mas pouco ou nada...

Seguiu-se um Bruckner com um bonito scherzo mas com um andamento lento verdadeiramente arrastado, ao contrário do que diz a partitura. Esta obra de Bruckner já de si é um pastelão muito difícil de digerir e nem Young nem a orquestra Gulbenkian conseguiram dar a volta a um repasto algo indigerível, embora a coisa tenha sido bem mais segura e equilibrada do que no Te Deum.

Alguém me dizia que Bruckner e Wagner tinham o mesmo ambiente. Dizer que um dos maiores mestres do clímax, da construção da tensão orquestral, da sobriedade na exploração dos temas, nunca repetidos de forma monótona, partilha o mesmo ambiente com o "mestre" da monotonia e da repetição até à exaustão das ideias, é comparar um Barca Velha com um vinho de pacote... Lá porque Bruckner usa as tubas do seu ídolo não quer dizer que as use da mesma forma...

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10.5.07

Câmara de Lisboa 

Única solução: Destruir aquilo tudo, despedir o pessoal todo, e refazer tudo outra vez.
Único problema: a reconstrução tem de ser feita por portugueses.

Desgraça não única: Uma manifestação falsa (para queimar) convocado por sms (devem ter sido cinco mensagens, talvez seis) de apoio ao Carmona no último domingo de manhã, dois manifestantes, metade da manifestação, são meus amigos! Jornalistas são mais de vinte, receberam faxes nas redacções! A foto da manif sai no 24 horas! Uma desgraça nunca vem só.

Felicidade: ontem um almoço soturno, numa sala antiga pejada de retratos de reis do final do séc. XIX e de governantes do antigo regime; de repente .... a salvação! Alguém lembra que dois dos presentes eram metade da manifestação de apoio ao Carmona! Até apareceram em todas as televisões! Felizmente, diz um deles, "o Alberto João teve a maioria e o Sarkhozy ganhou, o que desviou as atenções"! A história salvou o almoço de mais uma discussão sobre vinhos. A pergunta que se impunha: e então a polícia de choque não prendeu ninguém? Nem sequer um dos múltiplos jornalistas? Nem um cocktail foi atirado? Para o estômago pelo menos... A um domingo de manhã, antes do almoço, impõe-se um cocktail...

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8.5.07

Valquíria - Miserabilismo musical 


Prometi anteriormente escrever sobre os aspectos musicais da Walküre em Lisboa.
Pouco mais há a dizer sobre os longos textos que escrevi sobre o teatro de Vick. É inequívoco que a música foi um parente pobre nesta Valquíria.
A orquestra wagneriana em versão mini, com 18 cordas a menos do que o minimamente exigível, e de muito fraca qualidade nessas mesmas cordas, portou-se francamente mal. O buraco orquestral, de acústica péssima e mal estudada, não contribuiu para mais, mal medido revela a profunda incompetência, ou desinteresse, do encenador sobre o assunto.
Os graves estando muito separados não se ouviam entre si com desacertos gritantes nas entradas, trompas e fagotes, contrabaixos e violoncelos, contrabaixos e todo o resto. Parecia que tudo andava à nora. Os violinos desafinados, com notas erradas e, cúmulo dos cúmulo, no final da obra (na passagem francamente difícil do fogo mágico) até parecia haver primeiros violinos a fingir que tocavam, arcos atravessados voando alegremente sem tocar nas cordas!
O resultado orquestral foi claramente mau. Muito pior do que o sofrível que me parecia a audição da estreia, por culpa de não conseguir ouvir a orquestra quando fiquei na distante plateia do palco.
O maestro Marko Letonja mostrou-se desatento, displicente, sem ter cuidado com as entradas. Em lugar de ser um elemento aglutinador e organizador de um conjunto fraco e desconjuntado, contribuiu para um descalabro orquestral absoluto. Apesar de frases poéticas nos solos de muitos instrumentos, o resultado em termos de conjunto foi entre o sofrível e o muito mau. E em Wagner ser sofrível já é péssimo. Letonja que já tinha sido péssimo na Médée de Cherubini, ainda teve o descaramento de dar uma entrevista ao DN em que mandava umas postas de pescada sobre Bayreuth e a obra de Wagner revelando uma confrangedora candura sobre o assunto, afirmando, entre outros disparates, que não precisava das seis harpas porque até ouvia bem demais as quatro que estavam encostadas às suas orelhas. Não importa que o público não ouvisse nada, sua excelência com as harpas em cima de si próprio achava que era demais. O pior nem sequer foi isso, o pior foi a subalternização a que a música foi votada, e com a qual o maestro esloveno foi cúmplice. O resultado final em termos puramente musicais foi desconexo, sem ligação global, momentos interessantes que se perdiam em declamações intermináveis mal sublinhadas e que não contribuiram para a coerência final. Não houve sequer um arremedo de leitura musical, não se percebeu qual a posição estética da direcção, não se entendeu uma linha de som, os tempos foram sempre ditados pelo palco e nunca pelo pulso do maestro como emanações de uma ideia da obra. Ideia global da obra? Só se for a que Vick tem, preconcebida, do drama wagneriano, e é claro que Letonja não faz tem a menor noção do assunto. Não perceber que a música de Wagner é essencial ao drama é não perceber nada de encenação, nada de música e nada de Wagner. Ter deixado isto acontecer no Ouro do Reno foi um erro, persistir nesse erro na Valquíria e até aumentar essa dependência com a atitude subserviente de Letonja, de andar e deixar andar, foi um erro ainda mais grave. Creio que durante todos os anos de Pinamonti, e eu disse muito bem deste director que acho insubstituível, esse foi o seu maior erro, deixar Graham Vick destruir o drama Wagneriano, não numa encenação canhestra e meramente destrutiva e gratuita mas numa encenação incompetente. No entanto não foi por isso que Pinamonti foi substituído, nem eu acho que isso fosse motivo para o ser, pois o próprio secretário hermenêutico abanava a cabeça de contente com o Ouro do Reno e delirava com esta proposta de Graham Vick, avalizando esta escalada vergonhosa de desrespeito pela música de Wagner.
Já falámos de Letonja e da orquestra, salvaram-se os metais aqui e ali, salvaram-se alguns solos. Nas cordas em conjunto a coisa foi um desastre, contrabaixos reduzidos a cinco não se ouviam, violoncelos desafinavam (isto quando se ouviam), violas eram a imagem da anarquia, com uma agitação frenética dentro do naipe e uma falta de profissionalismo verdadeiramente confrangedora por parte de alguns músicos e os violinos foram globalmente desastrosos. Será que as harpas estavam lá? Pouco as ouvi, no palco estavam longe, no camarote o som projectava-se noutra direcção...
As vozes foram também muito irregulares:

Mikhail Kit em Wotan foi grosseiro, sem linha vocal, desafinou e não tem legato, não sabe alemão e depende do ponto, fraco.
Susan Bullock em Brünnhilde, acabou por cumprir com grande dignidade sem ter a voz de um verdadeiro soprano dramático. Cantou as linhas wagnerianas com grande empenho, determinação e sentido dramático, agudos demasiados estridentes e às vezes um pouco destimbrada, fez no entanto uma belíssima cena final quase irrepreensível, muitos furos acima de uma Linda Watson, por exemplo.
Judit Németh em Fricka, excelente, belo timbre, belíssima linha vocal, belos agudos, encantou, já tinha feito Brünnhilde antes. Creio que terá sido um erro de casting empregá-la em Fricka que tantas cantoras podem fazer.
Maxim Mikhailov em Hunding, boçal e bárbaro, voz poderosa mas rude, desafina nos graves, é o que se pretende em Hunding.
Ronald Samm em Siegmund, com um físico imprestável para o papel e as exigências da encenação, acaba extenuado e em perda vocal total, o final do primeiro e do segundo actos foram, em ambas as récitas a que assisti, verdadeiramente desastrosas. Acabou sem agudos e sem fôlego. As invocações heróicas de Sigmund foram tudo menos heróicas.
Anna-Katharine Behnke em Sieglinde, esteve mal na entrada da estreia, com perdas de linha e de afinação, depois aqueceu e a coisa compôs-se. Voz bonita e um segundo acto de grande nível, imponente a forma como cantou o tema da redenção, ou da esperança, na estreia. Na segunda récita tentei ouvir Behnke a cantar a mesma parte vocal, mas como a mesma estava de costas não sei se correu mal ou bem, não se ouvia... Tem uma boa linha vocal e representa com a voz.

As valquírias estiveram francamente bem, apesar de algumas entradas fora de sítio, sobretudo na estreia, o que se entende pela posição dificílima em que tinham de cantar e longíssimo do maestro; mais uma inconsistência prática desta encenação.

E fica cumprida a promessa. Apesar de continuar a achar que isto se devia ter feito, pela experiência, e que a encenação tem pontos a favor, fazendo pensar. Creio que ainda é tempo de fazer estudos acústicos para o Siegfried e de aumentar o buraco de forma a caber lá a orquestra wagneriana. O tecto que cobre grande parte da orquestra deve ser mais aberto, de forma a deixar fluir melhor o som, a disposição dos músicos na orquestra deve também ser melhorada. Por outro lado ainda se está a tempo de contratar um maestro mais sério, e com uma personalidade mais vincada, para o resto da Tetralogia.
Ao cuidado de novo director.

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6.5.07

Encomendas 

Leio uma reportagem miserável no Expresso. A protagonista é Isabel Pires de Lima, a inenarrável ministra da cultura de Portugal. Parece que o ministério pagou a viagem aos jornalistas. A reportagem da praxe enche páginas e páginas da revista "Única", que aliás prima de forma única por um rotundo desinteresse.
A "grande coragem" da ministra é apresentar-se de trapos ocidentais numa recepção oficial, ao contrário das mulheres locais que não são ministras da cultura de um país estrangeiro. A cena repete-se ao longo do texto, e a ministra lá aparece em diversas poses, sempre com o grande desiderato de andar (mal) vestida à ocidental, de tal forma que parece que granjeou grande feito, quase digno de se comparar ao bravo Albuquerque ou ao ilustre Camões...
Pelas imagens patentes a roupa da ministra podia passar bem numa exposição de farrapos, não dignificando em nada Portugal.

Mas o pior é que aquilo ao que a ministra foi não passa de turismo, dela e dos jornalistas. Nada se fez em nome do interesse público, nada se aproveita para dignificar o país, a ninguém aquilo importa senão aos próprios.
A ministra da cultura vai a um país que não respeita os direitos humanos, um país atrasado, de costumes bárbaros e medievais, um país governado por bandidos. Um país em que o governo é de uma família que pensa o Estado como uma quinta e que não se coibiu de dar o próprio apelido à designação oficial do país. E, no fim de contas, a sua grande coragem são os farrapos que enverga?
É que o passeio falava mais alto, que se lixem as mulheres da Arábia. E digo Arábia porque o nome "saudita" me mete nojo.

E a ministra leva os jornalistas para a encomenda. Por acaso ficava-lhe melhor que não os tivesse levado, ao menos passeava-se sem ecos.

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4.5.07

Maio Maduro Maio por Tomás de Oliveira Marques 

“MAIO MADURO MAIO”


Mise en scène do mundo a correr
para o abismo, sem a turba cuidar
do Pintor em nós estar a morrer


coerência paradoxal…!
num antro aberto em pecado
o 1º de Maio em flagrante apanhado,
precisamente, no centro comercial………………………




I. “Do Colectivo”

A pulular de galho em galho a piar
Adentro o verde rubro arvoredo
A passarada há-de sem fim dissertar
Para o boneco, bonito a pairar no ar,
O que torna sombrio seu raso enredo.

Sem dúvida que grassa frio de rachar
Na razão das leis que regem o medo
Coberto de penas a fim de poder voar
A salvo dos que atiram sempre a matar
Quem à frente lhes passa a planar ledo.

Mas como é sabido do dito milenar
«Quem tarde acorda, há-de morrer cedo»
De pouco vale o fim cantado a chorar:
O que no fundo conta é de vez acabar
Com a ilusão de se poder voar quedo.



… honi soit… languir me fault……………………………………………………….




II. “Do singular, nas trovas que (se) passam”

Acerca dos trovadores, muito em ruído se disse
E pouco se sabe do cerne dos seus amores.
Uma coisa é certa de Zeca, Ibañez, Ventadorn:
Para bem esconjurar e forte vir a terreiro
É vital pugnar pela tinta do seu tinteiro,
Não basta cantar alto a cinza dos seus ardores.




… piano, pianíssimo………………………………………………………..



III. “Da força dos factos (acerca da luz no ramo de uma oliveira)”

Diz-se do 13, o número do azar
De Maio, o mês do cio nos gatos.
O que me vale da força da superstição
É só guiar-me pela ficção dos factos.




……………………………………………………………………………………………


IV. “Interlúdio”

Um pouco de pudor, por favor
E de razão em busca dos outros
Que remam impotentes a miséria
E à dor pagam duro tributo
A soprar cego as velas içadas
Ao absurdo, que inerte navega
Sem fé e fito o mar dissoluto.

Um pouco de pudor e ardor
Deante de quem demasiado paga
Apartado de uma réstea de retorno
Em bruto que seja dos pés pesados
Que isentos do mar em si levitam
Calejados e sabidos a frio moldar
Informe, o fundo deste raso mundo.


… pela noite adentro, do 28 de Maio, em força e já……………………………………..


V. “Dos ratos”

Da humanidade, pouco ou nada
Mais há por aí além a tratar.

Ela é o que é, etérea matéria
Chã de si mesma esfaimada
Do sabor a carne
Do cheiro a queimado
De incenso enviesado
À altura da sua morada.

Ela é o que é, inventiva
Na razão de tudo querer
E não poder senão o pino fazer,
Acrobacias, ao longo das laudas
Que se arrastam incautas para o alto.

Ela é o que é, selectiva
Nos caninos longos e sedentos
Do vazio que vem do ventre
A pingar compaixão, cruel
O brilho que a moral neles esfrega
Todos os dias ao sair de casa.

Ela é o que é e não ilude
Autofágica e prenhe em similitude
Do que tende a fundo à individualidade,
A marcar passo do ardor outrora perdido
Para sempre o uníssono afogado em nada.
De braços abertos ao cenho cerrado
Ela é o que é e não mais ilude
Mesmo e sobretudo ao ser cantada.

Basta olhar o teu olhar
Conspícuo e negro
O modo de pousares a mão
No meu braço curto e dorido.

Ela é mesmo o que parece
No passo lento do fito de que carece
E disso padece ao sair à rua
Nua e por demais pintada.

Ela é o que é, vil matéria
Inventiva, selectiva, ogre que vai
E vem ao sabor do logro no labor
Cego o saber sórdido todo ao dispor
Do culto da lacuna no empenho
- De nada a valer cerzir o cenho;
E não ilude, é o que parece
Para além da voz de que carece;
Ela é o que é, poço fundo cheio
De anátemas indexados à prece
Pedra, gelo, promessas, nevoeiro
A dar forma à derradeira saída,
Por demais que se tome por leonina,
Exangue na sua condição de sendeiro.

Que a ilusão seja connosco
Tal qual a direcção dos ratos
Ao longo do barco que se afunda.


Dezembro de 2006



............ para acabar em beleza…………….




VI. “Un regalo para usted”

1, 13, 28, os números mágicos
Para em Maio se poder ganhar
Juízo e não fátuos milhões,
Que de resto ao longo dos anos
Na tola e bolsa ir-nos-ão faltar
A par do facto de já não termos …….


03/05/2007
Tomás de Oliveira Marques

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